PAI
Estava azul o firmamento
A flores o ar rescendia
Não senti passar o tempo
Nesta paz que me envolvia.
Recebi um beijo teu
Foi-me trazido p’lo vento
Sorriste só um momento
E o mármore frio aqueceu.
Da minha vida o rosário
As contas fui desfiando
Derrotas, pequenas glórias
Uma a uma fui contando.
Sem dor e sem amargura
Só com saudade-ternura
Por não te ter a meu lado
Não teres acompanhado
A vida que em mim nasceu
Uma rosa pequenina
Dos meus olhos a menina
Como fui dos olhos teus.
Uma saudade-pungente
Quando só no meio da gente
Precisava dos teus braços
Para aliviar o cansaço
De contra a maré remar
Lutar e não me afundar
Não dar ouvidos à dor
Vencer cada Bojador.
Sem tábua de salvação
Sem barco, usei as mãos
Nadei, nadei sem parar
Até meu porto alcançar
Na terra onde nasci
Meu tronco, minha raiz.
Assim foi que me ensinaste
Mas quando exausta fiquei
Ontem, hoje, perguntei:
“Pai, por que me abandonaste?”
MARIA IVONE VAIRINHO